sexta-feira, 7 de novembro de 2008
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Estudar é...
Estudar é muito importante,
mas pode-se estudar de várias maneiras...
Muitas vezes estudar não é só aprender
o que vem nos livros.
Estudar não é só ler nos livros
que há nas escolas.
É também aprender a ser livres
sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
às vezes, urgente.
Mas os livros não são o bastante
para a gente ser gente.
É preciso aprender a escrever,
mas também a viver,
mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer,
aprender a estudar.
Aprender a crescer quer dizer:
aprender a estudar, a conhecer os outros,
a ajudar os outros,
a viver com os outros.
E quem aprende a viver com os outros
aprende sempre a viver bem consigo próprio.
Não merecer um castigo é estudar.
Estar contente consigo é estudar.
Aprender a terra, aprender o trigo
e ter um amigo também é estudar.
Estudar também é repartir,
também é saber dar
o que a gente souber dividir
Para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado
sem ninguém nos ditar;
e se um erro nos for apontado
é sabê-lo emendar.
É preciso, em vez de um tinteiro,
ter uma cabeça que saiba pensar,
pois, na escola da vida,
primeiro está saber estudar.
Contar todas as papoilas de um trigal
é a mais linda conta que se pode fazer.
Dizer apenas música,
quando se ouve um pássaro,
pode ser a mais bela redacção do mundo...
Estudar é muito mas pensar é tudo!
José Carlos Ary dos Santos
quinta-feira, 24 de julho de 2008
A Língua Portuguesa…sempre à frente
quarta-feira, 23 de julho de 2008
terça-feira, 8 de julho de 2008
terça-feira, 10 de junho de 2008
Sapatos de Rebuçado
Diz a sinopse de apresentação:
Após ter abandonado a aldeia de Lansquenet-sur-Tannes, cenário de CHOCOLATE, Vianne Rocher procura refúgio e anonimato em Paris, onde, juntamente com as suas filhas Anouk e Rosette, vive uma vida pacífica, talvez até mesmo feliz, por cima da sua pequena loja de chocolates. Não há nada fora de comum que as destaque de todos os outros. A tempestade que caracterizava a sua vida parece ter acalmado... Pelo menos até ao momento em que Zozie de l’Alba, a mulher com sapatos de rebuçado, entra de rajada nas suas vidas e tudo começa a mudar…
Mas esta nova amizade não é o que parece ser. Impiedosa, retorcida e sedutora, Zozie de l’Alba tem os seus próprios planos – planos que vão despedaçar o mundo delas. E com tudo o que ama em jogo, Yanne encontra-se perante uma escolha difícil: fugir, tal como fez tantas outras vezes, ou confrontar o seu pior inimigo…Ela própria.
Uma leitura para as férias?
sábado, 31 de maio de 2008
Dia Mundial da Criança
→ Sabia que o primeiro Dia Mundial da Criança foi em 1950?
As crianças desses países viviam muito mal, porque não havia comida e os pais estavam mais preocupados em voltar à sua vida normal do que com a educação dos filhos. Algumas nem pais tinham!
Como não tinham dinheiro, muitos pais tiravam os filhos da escola e punham-nos a trabalhar, às vezes durante muitas horas e a fazer coisas muito duras.
Sabia que mais de metade das crianças da Europa não sabia ler nem escrever? E também viviam em péssimas condições para a sua saúde.
Em 1946, um grupo de países da ONU (Organização das Nações Unidas) começou a tentar resolver o problema. Foi assim que nasceu a UNICEF.
Foi uma batalha difícil, pois nem todos os países do mundo estavam interessados nos direitos da criança.
Foi então que, em 1950, a Federação Democrática Internacional das Mulheres propôs às Nações Unidas que se criasse um dia dedicado às crianças de todo o mundo.
Este dia foi comemorado pela primeira vez logo a 1 de Junho desse ano!
Com a criação deste dia, os estados-membros das Nações Unidas, reconheceram às crianças, independentemente da raça, cor, sexo, religião e origem nacional ou social o direito a:- afecto, amor e compreensão;- alimentação adequada;- cuidados médicos;- educação gratuita;- protecção contra todas as formas de exploração;- crescer num clima de Paz e Fraternidade universais.
Só nove anos depois, em 1959 é que estes direitos das crianças passaram para o papel?
A 20 de Novembro desse ano, várias dezenas de países que fazem parte da ONU aprovaram a Declaração dos Direitos da Criança.Trata-se de uma lista de 10 princípios que, se forem cumpridos em todo o lado, podem fazer com que todas crianças do mundo tenham uma vida digna e feliz.
Claro que o Dia Mundial da Criança foi muito importante para os direitos das crianças, mas mesmo assim nem sempre são cumpridos.
Então, quando a Declaração fez 30 anos, em 1989, a ONU também aprovou a "Convenção sobre os Direitos da Criança", que é um documento muito completo (e comprido) com um conjunto de leis para protecção dos mais pequenos (tem 54 artigos!).
Esta declaração é tão importante que em 1990 se tornou lei internacional!
terça-feira, 27 de maio de 2008
domingo, 11 de maio de 2008
domingo, 13 de abril de 2008
Evolução da Língua Portuguesa!
Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar "afro-americanos" aos Os vendedores de medicamentos, inchados de prosápia, tratam-se de "delegados de
negros, com vista a acabar com as raças por via gramatical - isto tem sido um
fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas domésticas" e
preparam-se agora para receber menção de "auxiliares de apoio doméstico".
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos"; passaram todos a
"auxiliares da acção educativa".
informação médica". E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas".
Os drogados transformaram-se em "toxicodependentes" (como se os consumos de
cerveja e de cocaína se equivalessem!); o aborto eufemizou-se em
"interrupção voluntária da gravidez"; os gangues étnicos são "grupos de
jovens problemáticos"; os operários fizeram-se de repente "colaboradores"; e
as fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas da
estranja são "centros de decisão nacionais".
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à
"iliteracia" galopante. Desapareceram dos comboios as classes 1ª e 2ª, para
não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por
imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços
distintos nas classes "Conforto" e "Turística".
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se
quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia:
«Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se
quiser fazer jus à modernidade impante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças
irrequietas e «mal comportadas»; diz-se modernamente que têm um
"comportamento disfuncional hiperactivo". Do mesmo modo, e para felicidade dos
"encarregados de educação", os brilhantes programas escolares extinguiram os
alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, "crianças de
desenvolvimento instável".
Ainda há cegos, infelizmente, como nota na sua crónica o Eurico. Mas como a
palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é
considerado "invisual". (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio
seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-se para as regras gramaticais...).
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da nossa praça
desbocam-se em "implementações", "posturas pró-activas", "políticas
fracturantes" e outros barbarismos da linguagem.
E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção
política» e o novo-riquismo linguístico.
(Autor desconhecido...)
sexta-feira, 11 de abril de 2008
sexta-feira, 4 de abril de 2008
sábado, 22 de março de 2008
Um pouco de Poesia...
Ontem assinalou-se o Dia Mundia da Poesia. Não tive oportunidade de vir blogar, por isso só hoje deixo um tributo tardio a essa maravilhosa Arte.
Meio- Dia
Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto.
Tornou o céu de todo o deus desrto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário e antigo
Parece bater palmas.
Sophia de Mello Breyner Andresen
quarta-feira, 19 de março de 2008
A todos os pais... um Feliz Dia!
Um poema para o Dia do Pai!
Ter um Pai! É ter na vida
Uma luz por entre escolhos;
É ter dois olhos no mundo
Que vêem pelos nossos olhos!
Ter um Pai! Um coração
Que apenas amor encerra,
É ver Deus, no mundo vil,
É ter os céus cá na terra!
Ter um Pai! Nunca se perde
Aquela santa afeição,
Sempre a mesma, quer o filho
Seja um santo ou um ladrão;
Talvez maior, sendo infame
O filho que é desprezado
Pelo mundo; pois um Pai
Perdoa ao mais desgraçado!
Ter um Pai! Um santo orgulho
Pró coração que lhe quer
Um orgulho que não cabe
Num coração de mulher!
Embora ele seja imenso
Vogando pelo ideal,
O coração que me deste
Ó Pai bondoso é leal!
Ter um Pai! Doce poema
Dum sonho bendito e santo
Nestas letras pequeninas,
Astros dum céu todo encanto!
Ter um Pai! Os órfãozinhos
Não conhecem este amor!
Por mo fazer conhecer,
Bendito seja o Senhor!
Florbela Espanca
terça-feira, 18 de março de 2008
Leituras
Mais Uma Aventura
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada lançaram-se numa nova aventura... a 50ª!
sábado, 8 de março de 2008
Dia Internacional da Mulher
sexta-feira, 7 de março de 2008
Semana da Leitura
No dia em que termina a Semana da Leitura, lembro o autor e o livro que escolhemos trabalhar nas aulas de Estudo Acompanhado.
terça-feira, 4 de março de 2008
Marguerite Yourcenar
A primeira mulher a ser eleita em 1980 para a Academia Francesa nasceu com o nome de Marguerite de Crayencour, no dia 8 de junho de 1903 em Bruxelas, filha de mãe belga e pai francês. Antes de morrer "no campo de honra das mulheres" de uma febre puerpural consecutiva a seus partos, sua mãe, Fernande de Cartier de Marchienne, recomenda que não se impeça a menina de se tornar religiosa se ela assim quiser. Ingressando na literatura, Marguerite acredita ter atendido o desejo de sua mãe. Michel, seu pai, que é mais do que um pai, um pedagogo, um confidente, um amigo, não é homem de fazer a filha ingressar em qualquer ordem que seja. Esse anticonformismo deixa-lhe como herança o gosto pela vida errante, ilustrado nesse adágio que ela nunca esquecerá: Só se pode estar bem em outro lugar; além de uma grande cultura, que divide com ela, assim como sua biblioteca. (Letras, nº21, 08/95)
A fuga de Wang-Fô
Ninguém pintava melhor que Wang‑Fô as montanhas a sair do nevoeiro, os lagos sobrevoados pelas libélulas e as enormes vagas do Pacífico vistas a partir da costa. Dizia‑-se que as suas imagens santas atendiam imediatamente qualquer prece; sempre que ele pintava um cavalo, tinha que o mostrar preso a uma estaca ou seguro pelas rédeas, pois se assim não fosse o cavalo escapava‑-se do quadro a galope e nunca mais ninguém lhe punha a vista em cima. Os ladrões não se atreviam a entrar em casa de quem possuísse um cão de guarda pintado por Wang‑Fô.
Wang‑Fô poderia ter sido rico, mas gostava mais de dar que vender. Distribuía as pinturas que fazia por quem as apreciasse verdadeiramente ou então trocava‑-as por uma tigela de comida. O seu carinho ia todo para os pincéis, para os rolos de seda ou de papel de arroz e para os pauzinhos de tinta de diversas cores que ele friccionava contra uma pedra para misturar o pó numa pequena porção de água. [...].
Uma tarde, ao pôr-do-sol, chegaram aos subúrbios da capital e Ling arranjou uma estalagem onde Wang‑Fô pudesse passar a noite. O velho aconchegou-se nuns farrapos e Ling encostou-se a ele para aquecê‑lo, porque a Primavera ainda mal tinha começado e o gelo continuava a cobrir o chão de terra batida. Ling lamentava a sujidade da estalagem, mas o velho maravilhava-se com as sombras bruxuleantes que uma lâmpada mortiça projectava nas paredes e com os enigmáticos desenhos que faziam no tecto as marcas da fuligem. De madrugada, ressoaram pesados passos nos corredores e atrás deles ordens gritadas numa língua bárbara. Ling estremeceu, lembrando‑se de que na véspera roubara um bolo para a refeição do mestre. Certo de que o vinham prender, perguntou aos seus botões quem é que iria ajudar o velho a passar o vau do próximo rio.
Os soldados entraram com lanternas. A chama que se filtrava através do papel multicolor punha nos seus rostos reflexos encarnados, amarelos e azuis. Rugiam como animais ferozes e a corda dos seus arcos vibrava a cada grito. Um deles pousou a mão com rudeza na nuca de Wang-Fô, que não podia deixar de admirar os bordados dos seus mantos. Amparado pelo discípulo, Wang‑Fô seguiu-os cambaleando através das estradas aos altos e baixos. [...].
Chegaram à entrada do palácio imperial. As paredes violetas insinuavam em pleno dia um tom crepuscular. Os soldados obrigaram Wang‑Fô a atravessar salas redondas ou quadradas cujas formas simbolizavam as estações, os pontos cardeais, a lua e o sol, a longevidade e a Omnipotência. As portas giravam sobre si próprias emitindo notas musicais e o seu encadeamento era de forma a permitir que quem atravessasse o palácio do nascer ao pôr‑-do‑-sol ouvisse a escala toda. Por fim, o silêncio tornou‑-se tão grande que mal se ousava respirar; um escravo soergueu um reposteiro e o pequeno grupo entrou na sala onde reinava o Filho do Céu. [...].
O Mestre do Celeste estava sentado num trono de jade, e, cobertas de rugas, as mãos dele assemelhavam-se às dum ancião, se bem que ele ainda mal tivesse vinte anos. [...]
- Dragão Celeste, disse Wang‑Fô prosternado, sou velho, sou pobre, sou fraco. Tu és como o Verão; eu sou como o Inverno. Tu tens Dez Mil Vidas; eu tenho apenas uma e que vai acabar. Que mal é que eu te fiz? Ataram as minhas mãos que nunca te causaram nenhum dano.
- Perguntas‑me o que é que me fizestes, velho Wang‑Fô? - disse o Imperador. [...] Vou dizer‑to. O meu pai reuniu uma colecção de pinturas tuas no fundo do palácio e foi nessas salas que eu fui criado, velho Wang‑Fô, porque não me deixavam sair, com medo de que visse os infelizes e me afligisse o espírito ou agitasse o coração. Tirando um ou outro velho criado que aparecia o menos possível, a ninguém mais era permitido entrar nos meus domínios, não fosse quem passasse conspurcar-me com a sombra. De noite, quando não conseguia dormir, ficava a olhar os teus quadros e, durante dez anos, não houve uma só noite em que eu os não tenha contemplado. De dia, sentado num tapete de que já sabia de cor todos os desenhos, descansando as mãos nos meus joelhos de seda amarela, eu imaginava o mundo - com o país de Han no meio - semelhante à planície côncava e monótona da mão profundamente atravessada pelos Cinco Rios. A toda a sua volta, o mar onde os monstros nascem e, mais longe ainda, as montanhas onde assenta o céu. Tudo isto eu imaginava com a ajuda dos teus quadros. Aos dezasseis anos reabriram‑se as portas que me separavam do mundo; subi ao terraço do palácio para ver as nuvens, mas elas não se comparavam com as dos teus crepúsculos. Mandei vir uma liteira; sacudido através de estradas atulhadas de lama e de pedras com que eu não contava, percorri as províncias do Império sem encontrar os teus jardins repletos de mulheres parecidas com flores e as tuas florestas cheias de antílopes e de pássaros. Os calhaus da beira-mar fizeram com que eu me enjoasse dos oceanos; a fealdade das aldeias impede‑me de ver a beleza dos arrozais e o riso áspero dos meus soldados dá‑me vómitos. Mentiste-me, Wang‑Fô, velho aldrabão: o reino de Han não é o mais maravilhoso dos reinos e não sou eu o Imperador. O único império onde vale a pena reinar é aquele onde tu entras, velho Wang, pelo caminho das Mil Curvas e das Dez Mil Cores. Só tu reinas em paz sobre planícies onde a neve não derrete e sobre campos de flores que nunca morrerão. E é por isso, Wang‑Fô, que eu encontrei o suplício que te estava reservado, a ti cujas pinturas me fizeram detestar o que possuo e desejar o que jamais possuirei. E, para te fechar na única prisão de onde não poderás sair, decidi queimar-te os olhos, já que os teus olhos são as tuas portas mágicas por onde tu penetras no teu reino. E, já que as tuas mãos são as duas estradas de dez ramificações, que vão até ao coração do teu império, também decidi cortar‑te as mãos. Percebes tu agora, velho Wang‑Fô?
Ouvindo esta sentença, o discípulo Ling arrancou da cintura uma faca amolgada e precipitou‑-se sobre o Imperador. Dois guardas sustiveram-no. O Filho do Céu sorriu e acrescentou com um suspiro:
- Também te odeio, velho Wang‑Fô, por te saberes fazer amar. Matem esse maltrapilho.
Ling deu um salto para a frente, afim de evitar que o sangue manchasse a roupa do seu mestre. Um carrasco decapitou-o com um sabre. Os criados levaram os restos mortais, e Wang‑Fô, desesperado, admirou a lindíssima mancha escarlate que o sangue do discípulo deixara no pavimento de pedra verde.
O Imperador fez um sinal e dois escravos enxugaram os olhos de Wang‑Fô.
- Ouve, velho Wang‑Fô, disse o Imperador, e pára de chorar, porque não é este o momento mais apropriado. Há na minha colecção das tuas obras um quadro admirável onde as montanhas, o estuário dum rio e o mar se reflectem, é claro que infinitamente reduzidos, mas com uma intensidade que ultrapassa a dos próprios objectos, como as figuras reflectidas na superfície duma esfera. Mas não terminastes esse quadro, Wang‑Fô, e posso obrigar-te a levá‑lo a cabo. Se te recusares, mando queimar todas as tuas obras antes do teu suplício e serás como um pai que viu morrer à sua frente toda a sua descendência. [...].
Wang‑Fô começou por tingir de cor‑-de‑-rosa a extremidade duma nuvem pousada numa montanha. Depois, acrescentou à superfície do mar uma pequena ondulação que tornou ainda mais profunda a sua calma. Estranhamente, o pavimento de jade começara a ficar húmido, mas Wang‑Fô, completamente absorvido pelo quadro, não dava conta de que já estava a trabalhar com os pés na água.
O frágil escaler, encorpado pelas pinceladas do pintor, ocupava agora todo o primeiro plano do rolo de seda. Um ruído de remos ergueu-se de repente na distância, vivo e cadenciado como um bater de asas. Aproximou-se, encheu a sala toda, depois cessou. Pequenas gotas reluziam, imóveis, suspensas dos remos do barqueiro. Há muito que o ferro em brasa destinado aos olhos de Wang‑Fô se tinha apagado no braseiro do carrasco. Com a água a dar‑lhes pelos ombros, os cortesãos, paralisados pela etiqueta, erguiam-se nas pontas dos pés. A água por fim atingiu o nível do coração imperial. O silêncio era tão profundo que teria sido possível ouvir lágrimas cair.
Era mesmo Ling. Trazia a roupa de todos os dias e na manga direita viam‑se ainda as marcas dum rasgão que ele não tivera tempo de coser, essa manhã, antes da chegada dos soldados. Mas à volta do pescoço trazia um estranho lenço encarnado.
Sem deixar de pintar, Wang‑Fô disse‑-lhe docemente:
- Julgava‑te morto.
- Estando você vivo, disse Ling cheio de respeito, como é que poderia ter morrido?
E ajudou o mestre a subir para o barco. O tecto de jade reflectia‑se na água, de maneira que Ling parecia navegar no interior duma gruta.
As tranças dos cortesãos submersos ondulavam à superfície como cobras e a cabeça do Imperador flutuava como um lótus.
- Repara, meu discípulo, disse Wang‑Fô melancolicamente. Esses infelizes vão morrer, se é que não morreram já. Nunca supus que no mar houvesse tanta água que pudesse afogar um imperador. Poderemos fazer ainda alguma coisa?
- Não te preocupes, Mestre, murmurou o discípulo. Não tarda que eles estejam de novo em seco, sem mesmo se lembrarem de ter molhado as mangas. Só o Imperador é que há‑-de guardar no coração um pouco do amargor do mar. Gente como esta não foi feita para se perder dentro dum quadro.
E acrescentou:
- O mar é belo, o vento favorável, as aves marinhas andam a fazer ninhos. Vamos embora, Mestre, para o lá de lá das ondas.
- Vamos, disse o velho pintor.
Wang‑Fô tomou conta do leme, e Ling debruçou‑-se sobre os remos. O seu ruído voltou a encher a sala, firme e regular como o bater dum coração. O nível da água ia baixando insensivelmente em torno dos enormes rochedos verticais que eram de novo colunas. Não tardou que apenas algumas esparsas poças de água brilhassem nas depressões do pavimento de jade. Os vestidos dos cortesãos estavam secos, mas o Imperador tinha alguns flocos de espuma na franja do casaco.
O rolo desdobrado e acabado por Wang‑Fô estava encostado a uma tapeçaria. Um barco ocupava todo o primeiro plano. Ia‑se afastando lentamente, deixando atrás de si uma estreita esteira que se voltava a fechar no mar imóvel. Já não se distinguia a cara dos dois homens sentados no escaler, embora ainda se visse o lenço encarnado de Ling e a barba de Wang‑Fô flutuando ao vento.
A pulsação dos remos foi enfraquecendo, por fim cessou, obliterada pela distância. O Imperador, dobrado para a frente, com a mão em pala sobre os olhos, via afastar-se o barco de Wang que já não era senão uma mancha imperceptível na palidez crepuscular. Finalmente o barco contornou um rochedo que fechava a entrada do mar alto; a esteira extinguiu-se na superfície deserta e o pintor Wang‑Fô assim como o seu discípulo Ling desapareceram para sempre sobre aquele mar de jade azul que Wang‑Fô tinha acabado de inventar."
Este conto, dedicado aos mais jovens, é quase um poema em prosa, uma lenda extraordinária, cheia de beleza e fantasia. O protagonista é um velho pintor chinês Wang-Fô, a quem o Imperador ordena que termine um quadro, representando o mar e um navio. Após a conclusão da obra Wang-Fô, ficaria cego (castigo do Imperador desiludido). Mas o velho e pobre pintor consegue tornar real o mar, sumindo-se no barco que a sua arte concebera, vivendo, assim, a sua liberdade de artista, na companhia do seu discíplulo, Ling.
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Desafio à escrita
- a personagem principal seja uma almofada branca;
- uma das personagens secundárias seja um caniche branco;
- o tempo da acção é indefinido
- o espaço: recinto da feira semanal de Guimarães.
Nota: dá um título ao teu conto.
Fonte: www.escrever.com
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
S. Valentim
Diz a lenda que, enquanto aguardava a morte, o padre ter-se-á apaixonado pela filha do carcereiro, que o visitava regularmente. Na prisão, escreveu-lhe um bilhete que terá estado na origem da tradição actual, assinado ‘do teu Valentim’. Esta pessoa ficou conhecida pela sua bondade e romantismo, características que o tornaram num dos santos mais populares em Inglaterra e França durante a Idade Média.
A carta mais antiga ligada a este dia data do século XV, mas o Dia de S. Valentim apenas começou a tornar-se popular 200 anos depois.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
As respostas...
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Trabalhando a oralidade...
Para os grupos de trabalho de Estudo Acompanhado, deixo alguns endereços que podem ajudar na elaboração das síntese:
Maus tratos a animais:
http://www.cidadedosanimais.com/forum
http://gazetaanimal.com/pages/leis10
Actividade vulcânica:
http://pt.wikipedia.org/wiki
http://www.esec-lousa.rcts.pt/downloads/vulcoes.pdf
http://students.fct.unl.pt/~ips13144/Did/trabfinal/relat_aulapratica.doc
http://www.minerva.uevora.pt/eschola/acores/caldeiras.htm
Actividade Sísmica:
http://www.meteo.pt/pt/sismologia/sismObservGeral.jsp
domingo, 13 de janeiro de 2008
Simbologia em O Cavaleiro da Dinamarca
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
O Cavaleiro da Dinamarca
A temática principal desta obra tem cariz religioso ao centrar-se no dia de Natal com toda sua tradição - a ceia, o pinheiro, o presépio, as decorações da casa - e o leitor é levado a conhecer estas vivências de uma forma poética, bem ao jeito de Sophia.
Encaixadas na narrativa principal, outras narrativas (narrativas encaixadas) - história de Vaniva; história de Giotto e de Dante; história do capitão português - que transmitem mais colorido, variedade, riqueza cultural e artística à obra e tranportam o leitor para outros mundos:
. ambiental: a descrição da floresta cujas mudanças são visíveis à medida que as estações do ano vão passando.
. histórico: Descobrimentos portugueses; História da Itália: cidades de Ravena, Veneza, Florença, um mundo riquíssimo que enche de espanto o Cavaleiro.
. social: as personagens da obra pertencem às diferentes classes sociais: O Cavaleiro pertence à nobreza, está rodeado de criados e servos que pertencem ao povo; quando, adoece é tratado por frades (clero), e convive com a burguesia (banqueiros, mercadores e negociantes) quando passa pelas cidades italianas.
. artístico e cultural: o Cavaleiro fica deslumbrado com a arquitectura renascentista italiana e com as conversas sobre astronomia, filosofia, matemática, pintura e poesia. Conhece as histórias do pintor Giotto, discípulo de Cimabué, do poeta Dante que descreveu a sua descida aos Infernos na obra A Divina Comédia.
Espaços e os ambientes onde decorre a acção:
- Casa do Cavaleiro, situada numa floresta na Dinamarca (Norte da Europa), símbolo dos valores tradicionais: fé, família, amizade, respeito.
- Palestina, símbolo de fé: Jerusalém, Belém, montes do Calvário e Judeia, Jardim das Oliveiras, rio Jordão, lago Tiberíade.
- Itália, símbolo do progresso e esplendor: Ravena, Veneza, Florença;
- Flandres e Antuérpia, símbolo de uma nova Era, graças às navegações que permitiam ir ao encontro do desconhecido e da riqueza;
- Mar (viagem de barco) e terra (viagem a cavalo);
- Convento, símbolo de paz e de equilíbrio;
- Floresta, casa do Cavaleiro, local onde regressa, dois anos depois de ter partido.
Para saber mais
Sobre a Dinamarca:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dinamarca
http://fotos.sapo.pt/acncp/tag/dinamarca
Sobre Dante:
http://web.educom.pt/cresines/jornal11/dante.htm
http://web.educom.pt/cresines/jornal11/gioto.htm
Descobrimentos Portugueses
http://pt.wikipedia.org/wiki/Descobrimentos_portugueses