domingo, 13 de abril de 2008

Evolução da Língua Portuguesa!

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar "afro-americanos" aos
negros, com vista a acabar com as raças por via gramatical - isto tem sido um
fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas domésticas" e
preparam-se agora para receber menção de "auxiliares de apoio doméstico".
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos"; passaram todos a
"auxiliares da acção educativa".

Os vendedores de medicamentos, inchados de prosápia, tratam-se de "delegados de
informação médica". E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas".

Os drogados transformaram-se em "toxicodependentes" (como se os consumos de
cerveja e de cocaína se equivalessem!); o aborto eufemizou-se em
"interrupção voluntária da gravidez"; os gangues étnicos são "grupos de
jovens problemáticos"; os operários fizeram-se de repente "colaboradores"; e
as fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas da
estranja são "centros de decisão nacionais".

O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à
"iliteracia" galopante. Desapareceram dos comboios as classes 1ª e 2ª, para
não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por
imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços
distintos nas classes "Conforto" e "Turística".

A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se
quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia:
«Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se
quiser fazer jus à modernidade impante.

Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças
irrequietas e «mal comportadas»; diz-se modernamente que têm um
"comportamento disfuncional hiperactivo". Do mesmo modo, e para felicidade dos
"encarregados de educação", os brilhantes programas escolares extinguiram os
alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, "crianças de
desenvolvimento instável".

Ainda há cegos, infelizmente, como nota na sua crónica o Eurico. Mas como a
palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é
considerado "invisual". (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio
seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-se para as regras gramaticais...).

Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da nossa praça
desbocam-se em "implementações", "posturas pró-activas", "políticas
fracturantes" e outros barbarismos da linguagem.

E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção
política» e o novo-riquismo linguístico.

(Autor desconhecido...)


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